quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Etimologia das Vitórias Fáceis

Por Roberto Cruz.

Nas competições de enxadrismo é muito frequente o uso da expressão "ganhar por W.O." significando aquela vitória que é obtida em virtude da ausência do enxadrista oponente. Normalmente nas competições oficiais, o enxadrista que está presente ainda tem que aguardar por uma longa hora até que a vitória por W.O. se concretize. Mas qual é a origem desta sigla? Procurei em vão no excelente Dicionário Houassis eletrônico, que me retornou com a mensagem "verbete não existe". Tentei no meu pequeno Oxford Dictionary em papel e, para meu desapontamento, também não encontrei a sigla. Por algum motivo, acabei não procurando no Google à época...
Esta semana acabei descobrindo por acaso a etimologia da expressão em uma nota da interessante publicação RioNet:

"A sigla W.O é a abreviação da palavra em inglês walkover. Significa alguma coisa que foi conseguida muito fácil, sem nenhum esforço. Quando numa partida esportiva, um dos times não aparece, ou não tem representantes suficientes para disputar, o adversário vence automaticamente. A vitória conseguida sem que os times tenham jogado é conhecida pela sigla."

Após ler a nota, consultei novamente o Oxford e lá estava o significado de walkover em apenas meia linha: "an easy victory". Simples assim.


Problema da Semana

Este é o problema nº 16 do Imagination in Chess, de Locock.
As brancas jogam e ganham. Mate em 3 lances.




Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução do problema: [Tf8+ (Se 1...Rg7, então 2.Bh6#) 1...Cxf8 2.Bf6+ Rg8 3.Ch6#]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Jogo da Vida


Por Roberto Cruz.

Um dos vídeos mais inspiradores e completos dos últimos tempos sobre a Arte de Caíssa é "O Jogo da Vida", um documentário do SporTV Repórter que mostra os benefícios do ensino e da prática do xadrez em diversas comunidades. O repórter Luís Roberto foi às mais distantes regiões do país para mostrar como o enxadrismo está sendo utilizado para mudar a vida das pessoas.

Nas escolas públicas de Belém, é mostrado como o enxadrismo aumenta o interesse dos alunos pelos estudos e como pode ser utilizado para pacificar e educar os estudantes mais rebeldes. Nas casas de detenção, serve para educar os menores infratores e controlar a agressividade, ensinando-os a serem mais pacientes e ponderados em suas atitudes.

Um dos casos mais curiosos é o da tribo dos Tembé do Pará, contando como, em 2008, o professor Mário Cardoso introduziu o esporte intelectual que conquistou os índios de tradição guerreira, vindo a tornar-se a primeira aldeia de enxadristas do país. Uma pesquisa mostrou que, no ensino fundamental, a média escolar geral entre os Tembé aumentou em 22%, após a implantação da prática de xadrez na comunidade.

Cardoso é também o responsável pelo ensino do xadrez aos jovens estudantes paraenses e entre os adolescentes infratores. A premissa que orienta o seu trabalho é que "o xadrez não é mais um esporte da elite, foi feito para todo mundo", o que é uma grande verdade em nossos dias.

O caso mais comovente é o enxadrismo para crianças com câncer, como um estímulo e metáfora da luta dos meninos e meninas contra a enfermidade. O xadrez ajuda as criança a compreenderem melhor o seu processo de cura e a não rejeitarem os procedimentos médicos necessários, mas pouco agradáveis.

Temos ainda o enxadrismo praticado pelo deficientes visuais que disputam suas partidas e torneios com tabuleiros e peças especiais. O destaque é do enxadrista itapecericano Roberto Hengels que ficou cego após uma tentativa de assalto ao táxi de seu pai, mas que, com persistência e determinação, voltou a jogar xadrez, conquistando a medalha de ouro com a melhor performance individual na XIII Olimpíada para Deficientes Visuais, realizada em 2008 na cidade de Creta, Grécia.

Em Cuba, o documentário mostra como o enxadrismo ajuda a todos os demais esportes, ensinando conceitos fundamentais de tática e estratégia aos atletas, além da existência de um forte projeto de xadrez escolar cubano. No Brasil, o enxadrismo está sendo ensinado aos jovens jogadores de futebol, procurando melhorar o seu desempenho em campo por meio das lições aprendidas nos tabuleiros.

Há ainda diversos depoimentos de pesquisadores e educadores mostrando os benefícios da prática salutar do xadrez sobre a mente humana, dentre eles o matemático Antônio Villar Marques de Sá, considerado uma das maiores autoridades do ensino de xadrez no país e coautor da notável Cartilha de Xadrez, um manual de enxadrismo publicado pelo Ministério do Esporte e que é distribuído nas escolas públicas brasileiras; e o neurologista e neurocirurgião Ítalo Venturelli, que é um especialista no estudo dos efeitos do enxadrismo no cérebro humano.

No artigo do jornalista e mestre de xadrez Herbert Carvalho sobre a importante função psicopedagógica do enxadrismo, o doutor Ítalo Venturelli, que também faz palestras sobre o assunto em todo o país, recomenda a prática do xadrez para crianças com dificuldades de aprendizado. Segundo ele, os benefícios se estendem muito além da vida acadêmica ou do êxito profissional, “o xadrez é um exercício mental que ajuda a prevenir doenças degenerativas do cérebro, como o Mal de Alzheimer".


Documentário:

Para saber mais:


Problema da Semana

Este é o problema nº 7 do Imagination in Chess, de Locock.
As brancas jogam e ganham. Mate em 2 lances.





Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução do problema: [Dh5! (Se 1...gxh5, então 2.Bh7#; Se 1...Dxg5, então 2.Dh8#; para qualquer outra resposta das negras, temos mate em 2.Dh7 ou 2.Dh8.)]

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Biblioteca Christiano Lyra


Por Roberto Cruz.

Assim como os antigos filósofos contaram com a preciosa ajuda da Biblioteca de Alexandria para impulsionar suas atividades culturais e científicas na aurora da civilização, os enxadristas brasilianos também necessitam de boas bibliotecas de enxadrismo para ampliar os seus saberes na Arte de Caíssa.

Na condição de uma das melhores bibliotecas temáticas do país, temos a Biblioteca de Xadrez Christiano Lyra, fundada no ano de 1990 pelo ex-governador e entusiasta do enxadrismo Miguel Arraes, com um acervo de mais de 3.000 obras raras e contemporâneas disponíveis ao público. Pertencendo à Secretaria de Esportes de Pernambuco, a biblioteca atualmente é administrada pelo vice-presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, o Mestre FIDE Marco Asfora.

A biblioteca está localizada em Recife, no Centro de Educação Física Santos Dumont desde 1996. Antes disso, funcionava na Casa da Cultura.

Em 10 de junho, ocorreu o esperado lançamento do site da biblioteca no auditório da representação do Banco Central em Recife, em solenidade promovida pela ASBAC/PE - Associação dos Funcionários do Banco Central do Brasil, com a presença do seu diretor Joaquim Pinheiro, do MF Marco Asfora, de Dona Madalena Arraes, viúva de Miguel Arraes, do bicampeão nacional e Mestre Internacional Alexandru Segal, de diretores, diretoras e representantes das escolas públicas que participam do Projeto Xadrez na Escola e de servidores do Bacen. O lançamento do site coincide com o projeto de digitalização das obras raras da biblioteca, que permitirá aos enxadristas de qualquer parte do mundo o acesso ao seu acervo.

A cerimônia, que foi aberta com discurso de Joaquim Pinheiro, teve uma interessante palestra com o Professor Valésio Pinto sobre como foi desenvolvido o site e como será o projeto de digitalização de livros. Valésio é o conhecido autor de Xadrez para Todos, o primeiro manual de xadrez com lições em prosa e versos de cordel. O evento foi finalizado por Marco Asfora, um dos maiores divulgadores do enxadrismo em terras norte-nordestinas.

Durante a palestra foi apresentado o original e a versão digital do livro sobre problemas de xadrez Imagination in Chess, de Locock, uma raridade impressa na Inglaterra e a primeira peça do acervo da biblioteca a ser digitalizada.


Leitura recomendada:

  • Xadrez para Todos, de Valésio Pinto.
  • Imagination in Chess, de Charles Locock.


Para saber mais:
  • Site da Biblioteca Christiano Lyra.
  • Site do Projeto Gutenberg, um abrangente acervo de livros digitais criado por voluntários, incluindo livros raros de xadrez.
  • Site da moderna Biblioteca de Alexandria.
  • Página do projeto da Biblioteca Nacional de Xadrez, com acervo de 300 livros.


Problema da Semana

Este é o primeiro problema do livro digital Imagination in Chess.
As brancas jogam e ganham. Mate em 2 lances.


Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução do problema: [1.De4+ (Se 2...Rxe4, então 2.Te6#; Se 2...Txe4, então 2.Cd3#)]

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Singularidade Tecnológica no Reino de Caíssa


Por Roberto Cruz.

A Singularidade Tecnológica  é um evento histórico previsto pelos futurologistas, que deverá ocorrer nas próximas décadas, no qual a humanidade alcançará um estágio de avanços tecnológicos sem precedentes na história mundial. Esse evento será decorrência da massa crítica de conhecimentos formada por crescentes descobertas e criações nos campos da inteligência artificial, engenharia genética e nanotecnologia, dentre outras novíssimas ciências.

Alguns estudiosos como Raymond Kurzweil, autor de The Age of Spiritual Machines e The Singularity is Near, preveem que uma inteligência superior à humana será então criada pelos cientistas e que em pouco tempo aprenderá a se reprojetar e se recriar continuamente, tornando-se cada vez mais inteligente em razão geométrica, o que provocaria uma “explosão” de inteligência cibernética em larga escala, fazendo com que o homem rapidamente deixasse de ser a espécie dominante em nosso planeta.

Em breve será lançado o filme Exterminador do Futuro – A Salvação, com Christian Bale, que retrata um desses possíveis cenários, onde a humanidade se encontra ameaçada de extinção pela belicosa rede de supercomputadores SkyNet, que estupidamente só consegue nos enxergar como uma pura e simples ameaça à sua sobrevivência. Bale interpreta o protagonista John Connor, líder da resistência humana contra os exterminadores enviados por SkyNet. Esse filme faz parte da conhecida série Exterminador do Futuro, que teve o político, ator, fisioculturista e também enxadrista Arnold Schwarzenegger na pele artificial do andróide T-800 em todos os filmes anteriores.

No mundo do enxadrismo, a Singularidade já ocorreu no já longínquo e fatídico ano de 1997, quando o então campeão mundial de enxadrismo, Garry Kasparov, foi derrotado pelo supercomputador Deep Blue em um rematch organizado pela IBM. Kasparov havia vencido o primeiro match contra Deep Blue em 1996, mas no ano seguinte não conseguiu manter uma vantagem consistente e capitulou diante da máquina. Após o rematch, declarou que ele era o último campeão humano a vencer um supercomputador e que teria percebido um novo tipo inteligência por trás dos lances da máquina. Kasparov também protestou sobre as bandeiras que foram usadas na mesa de xadrez, que deveriam constar como "Humanos versus Máquinas" e não "Rússia versus Estados Unidos".

Desde então vêm surgindo programas para microcomputadores cada vez mais potentes e ágeis. Na atualidade, chesswares populares, tais como Chessmaster, Fritz, Rybka e Shredder, que podem ser executados até em simples netbooks, conseguem derrotar mestres de xadrez sem grandes dificuldades.

Quando comecei a enfrentar chesswares, o programa era o Chessmaster 2000, rodando em um 386. O computador ficava pensando longamente antes de efetuar um lance e ainda jogava muito ruim. Os gráficos e sons, sofríveis. Dava tédio de tanto esperar. Hoje o Chessmaster em sua versão XI possui impecáveis recursos gráficos e de processamento, possuindo dezenas de belos conjuntos de peças e tabuleiros em 3D e fazendo lances brilhantes com grande agilidade. Já o Fritz não tem a potência gráfica do Chessmaster, mas faz muitos comentários sobre a partida, provoca o enxadrista com gracejos, faz lances seguros e rápidos e quando efetuamos um lance inusitado, o chessware "fica surpreso", afirma que "nunca tinha visto aquilo antes" e passa um bom tempo calculando o lance que considera mais correto. Observei que se o lance inusitado se repetir numa próxima partida, ele não se "assusta" mais e nem calcula: busca o lance que foi gravado no disco rígido e segue nos triturando. Ou seja, vai construindo o seu conhecimento, ampliando o seu book com cálculos já realizados e aprendendo com a experiência...

Os enxadristas de base carbono aparecem aqui sem alternativas para o futuro, mas um outro cenário também foi previsto pelos futurologistas em que os seres humanos terminariam por se integrar às máquinas, dando origem a uma nova espécie extremamente inteligente que se tornaria a dominante na Terra, se expandiria pelo sistema solar e seguiria em direção à colonização de outros sistemas estelares da nossa galáxia.

Talvez pensando nessa hipótese e também como uma resposta à sua derrota de 1997, Kasparov criou uma nova modalidade de enxadrismo, o Advanced Chess, no qual grandes mestres disputam suas partidas com o apoio de computadores. O primeiro match aconteceu no ano de 1998 em León, Espanha, com Kasparov usando o Fritz 5 e Topalov com o apoio do Chessbase 7. O match terminou em empate (3-3).

No enxadrismo ciborgue, caberá ao grande mestre selecionar o horizonte estratégico para onde a partida deverá se dirigir, enquanto o seu fiel chessware escudeiro cuidará de garantir que ocorram somente lances taticamente perfeitos.

E bingo! A simbiose enxadrista-máquina se revelou muito poderosa e eficiente contra os melhores programas de xadrez da atualidade que sejam postos para atuar sem a colaboração humana! Mentes com chips funcionam melhor que apenas chips.

Em 2005, o site PlayChess organizou um torneio de Advanced Chess que foi dominado do princípio ao fim por seres humanos gerenciando computadores comuns e derrotando supercomputadores como o Hydra. De acordo com Kasparov, neste torneio "a orientação estratégica humana, combinada com a acuidade tática de um computador, era invencível."

Leitura recomendada:
  • KASPAROV, Garry. Xeque-mate: a vida é um jogo de xadrez. Trad.: Thereza Ferreira Fonseca. Rio de Janeiro : Elsevier, 2007.
  • KURZWEIL, Raymond. The Age of Intelligent Machines.
  • KURZWEIL, Raymond. The Age of Spiritual Machines.
  • KURZWEIL, Raymond. The Singularity is Near.

Para saber mais:
  • Site oficial do rematch Kasparov vs. Deep Blue de 1997 (IBM)
  • Todas as partidas entre Kasparov e Deep Blue de 1996 e 1997 (ChessGames Collections)
  • Nos Limites da Intuição, uma análise psicológica do enxadrismo homem vs. máquina (Blogosfera)
  • Trailer de Exterminador do Futuro - A Salvação (YouTube)
  • Trailer do documentário Game Over: Kasparov and the Machine (YouTube)
  • Comercial da Pepsi mostrando a vingança de Deep Blue contra Kasparov (YouTube)



Final da Semana
Este foi o final da partida vencida por Kasparov no rematch contra Deep Blue em 1997. Após Deep Blue tomar o peão branco com 40...hxg4, você consegue prever os lances seguintes de Kasparov que fizeram com que o supercomputador abandonasse a partida?

Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Lances de Kasparov: [41.Bxg4 Bxg4 42.Cxg4+ Cxg4+ 43.Txg4 Td5 44.f6 Td1 45.g7 (1-0)]

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A Arte de Aprender de Josh Waitzkin


Por Roberto Cruz.

Lances Inocentes é sem dúvida um dos melhores filmes já feitos sobre enxadrismo de todos os tempos. Lançado em 1993 com a direção de Steven Zaillian, conta a história do garoto Josh Waitzkin, interpretado por Max Pomeranc, um gênio do xadrez com apenas seis anos de idade que, incentivado pelo pai e com as lições do professor de enxadrismo Bruce Pandolfini, numa interpretação soberba de Ben Kingsley, desenvolve o seu talento fora do comum que o leva a disputar o campeonato nacional de jovens norte-americanos com um final surpreendente.

A história do filme foi baseada no livro escrito pelo pai do Josh, Fred Waitzkin, Searching for Bobby Fischer, que dá o título original ao filme.

Na vida real, Josh conseguiu derrotar um mestre de xadrez com apenas dez anos de idade e chegou a empatar com o campeão mundial Garry Kasparov, aos onze, em uma simultânea. Ele continuou praticando, estudando e se aprimorando na Arte de Caíssa até tornar-se, com dezesseis anos, um respeitado Mestre Internacional, título concedido pela FIDE, o órgão máximo que preside o enxadrismo mundial.

Josh atualmente participa também do programa de xadrez Chessmaster, onde podemos ver suas lições na Academy of Chess daquele famoso "chessware" (neologismo que criei para indicar os softwares dedicados ao enxadrismo).

Adicionalmente, ele veio a tornar-se um mestre e campeão de Tai Chi Chuan, a arte marcial chinesa que nos lembra a Ioga, uma série de exercícios físicos executados lentamente com o controle do qi, uma energia vital aos seres humanos, na concepção da medicina chinesa.

Em 2008, escreveu The Art of Learning, onde explica como utilizou as técnicas de aprendizado, que aprimorou durante anos para se tornar mestre de xadrez, para se tornar igualmente um mestre de Tai Chi.

Recentemente Josh também vem praticando o Brazilian Jiu-Jitsu, sob a supervisão do mestre Marcelo Garcia, com o objetivo de tornar-se campeão mundial em 2010 ou 2011.

Lances Inocentes é um filme envolvente que pode ser visto tanto por enxadristas, quanto por leigos que tem apenas uma leve noção do tema. É a história real de um garoto que não está preocupado em ganhar um campeonato, mas em não perder o amor do pai.

P.S.: na Final da Semana (vide abaixo), coloquei a posição decisiva da partida de Josh contra o seu grande adversário no tabuleiro, Jonathan Poe, personagem inspirado em outro menino prodígio do enxadrismo, o canadense Jeff Sarwer.

O detalhe curioso é que a posição nunca existiu! Foi criada especialmente para o filme por Josh e Bruce Pandolfini. Na partida real, Josh ofereceu o empate, Jeff recusou e Josh conduziu a partida até um empate. Eles se tornaram então co-campeões de 1993. Josh veio a vencer novamente o U.S. Junior Chess em 1994.


Leitura recomendada:
  • WAITZKIN, Fred. Searching for Bobby Fischer: the father of a prodigy observes the world of chess.
  • WAITZKIN, Josh. The art of learning: an inner journey to optimal performance.
Para saber mais:
  • Site oficial de Josh Waitzkin.
  • Trechos do filme Lances Inocentes (YouTube).
  • Entrevista com Josh Waitzkin sobre The Art of Learning (YouTube).
  • Cronologia e curiosidades sobre Josh Waitzkin, Jeff Sarwer e Lances Inocentes (Geocities).
  • Para ver a bela partida entre Josh e Jeff no ChessGames, clique aqui.

Final da Semana

Em Lances Inocentes, o nosso pequeno herói, conduzindo as negras, enfrenta o seu maior forte adversário, o garoto Jonathan Poe. Josh oferece o empate, mas o arrogante Poe não aceita. Quais seriam os próximos lances que levam Josh à vitória?

As negras jogam e ganham em 12 lances.



Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Lances de Josh:
[ 1...gxf6
2.Bxf6 Tc6+
3.Rf5 Txf6+!
4.Cxf6 Bxf6
5.Rxf6 Cd7+
6.Rf5 Cxe5
7.Rxe5?? a5
8.h5 a4
9.h6 a3
10.h7 a2
11.h8=D a1=D+
12.Rf5 Dxh8
E as brancas abandonam.
]

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Machado de Assis, escritor e enxadrista


Por Roberto Cruz.

O genial Machado de Assis não foi somente romancista, contista, poeta, dramaturgo, teatrólogo e jornalista, foi também um enxadrista entusiasta e compositor de problemas e enigmas de xadrez. Ele foi o autor do primeiro problema genuinamente brasileiro, originalmente publicado na revista Ilustração Brasileira no ano de 1877.

Machado, que frequentava os círculos enxadrísticos imperiais, participou do primeiro torneio de xadrez realizado no Brasil em 1880. Era amigo do músico e fortíssimo enxadrista português Arthur Napoleão e do célebre João Caldas Vianna, o criador brasileiro da defesa Rio de Janeiro para a abertura Ruy López, uma das defesas preferidas de Emanuel Lasker, um dos grandes campeões mundiais de todos os tempos. Arthur Napoleão, prodígio do piano na infância, foi um grande divulgador da música brasileira e do enxadrismo em terras tupiniquins durante décadas, além de ter sido professor de música de Chiquinha Gonzaga.

Machado mantinha correspondência com as seções especializadas dos periódicos da época e enviava cartas ao amigo Joaquim Nabuco, que estava em Londres, solicitando que lhe encaminhasse pelos correios recortes de jornais locais que continham partidas anotadas de famosos enxadristas da Europa.

Este grande mestre da literatura advogava que “das qualidades necessárias ao jogo de xadrez, duas essenciais: vista pronta e paciência beneditina, qualidades preciosas na vida que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ganhas, outras perdidas, outras nulas.” (em Iaiá Garcia, Capítulo XI).

Em 1896, ele escreveu em uma de suas crônicas: "Meu bom xadrez, meu querido xadrez, tu que és o jogo dos silenciosos, como te podes dar naquele tumulto de freqüentadores? Quero crer que ninguém te joga, nem será possível fazê-lo. Basta saber que há uma hora certa, às seis da tarde, em que sai de dentro de um tubo de ferro uma bandeira com o nome de um jogo. Como podes correr a ver o nome da bandeira, se tens de defender o teu rei – branco ou preto, – ou atacar o contrário, preto ou branco?"

Segundo Cláudio Soares, autor do brilhante artigo Machado de Assis, o enxadrista, publicado pela Academia Brasileira de Letras, a influência do pensamento enxadrístico estaria presente em toda a obra de Machado de Assis, que curiosamente chamava as peças de "trebelhos".

É importante ressaltar que Machado não foi o único célebre escritor-enxadrista da história da literatura mundial, uma vez que, ainda segundo Soares, existiram dezenas de outros e enumera, dentre eles, os mais importantes: Shakespeare, Cervantes, Goethe, Charles Dickens, Balzac, Dostoiévski, Tolstoi, Allan Poe, Conan Doyle, Orwell, Yeats, Lewis Carroll, Nabokov, Ibsen, Isaac Asimov, Baum, Kipling, Sinclair Lewis, Mailer, Melville, Puchkin, Shaw, Vonnegut, Wells, Zweig, Stevenson, Rushdie e Amis.

Leitura recomendada:
  • SOARES, Cláudio S. Machado de Assis, o enxadrista. Revista Brasileira, nº 55. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2008.
  • Jornal do Tocantins. Machado de Assis e suas duas paixões. Entrevista com Cláudio Soares, por Elisangela Farias, 2008.

Problema da Semana

Este é o primeiro problema de xadrez brasileiro, composto por Machado de Assis e publicado na Ilustração Brasileira em 1877. A composição foi posteriormente incluída na clássica coletânea Caissana Brasileira de Arthur Napoleão, publicada em 1898.

As brancas jogam e ganham. Mate em 2 lances.

Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução: [ 1.Bb5! (Se 1...Rd8 2.Rf7 mate; Se 1...e5 2.Df6 mate) ]

terça-feira, 7 de abril de 2009

A Aeróbica da Mente


Por Roberto Cruz.

Um dos trechos que mais apreciava no primeiro capítulo do excelente “Xadrez Básico”, o meu primeiro manual de enxadrismo, de autoria do médico e mestre nacional Orfeu Gilberto D’Agostini, eram as quatro frases de pensadores célebres que exaltavam as virtudes desta arte marcial intelectual. Dentre elas, a que mais me chamou a atenção foi a do escritor e pensador alemão Johann Wolfgang von Goethe, uma das mais importantes personalidades da literatura alemã e do Romantismo europeu. A citação de Goethe assegurava que o “o xadrez é a ginástica da inteligência”, uma definição mais que perfeita.

A prática do xadrez na modalidade "pensada", com muito tempo disponível no relógio de xadrez, essencialmente é uma verdadeira musculação cerebral, onde temos que fazer muito esforço com os nossos "músculos" de neurônios para conduzir as peças e peões da melhor maneira possível em um tabuleiro minado pelas idéias e planos do enxadrista adversário.

Por sua vez, as partidas rápidas de xadrez, muitas vezes com apenas cinco minutos de tempo para cada jogador, se assemelham a uma verdadeira aeróbica intelectual, com movimentos rápidos e precisos que exigem muito "fôlego" dos enxadristas.

O mestre internacional e escritor cubano Nelson Pinal, em artigo sobre as pesquisas mais recentes sobre a conservação da memória por meio de exercícios mentais, conclui que "calcular árvores de variantes e encontrar soluções sob a pressão de um tempo determinado é, por si só, um treinamento mental completo, onde, ademais, fatores desportivos e psicológicos obrigam o jogador a ser sumamente exato no processo mental que implica na busca e comprovação de soluções."

Concordando com Goethe e Pinal, sem esquecermos o ensaio seminal de Benjamin Franklin, temos os autores espanhois contemporâneos López Manzano e Monedero González que afirmam, em seu imperdível Xadrez dos Grandes Mestres, que a prática regular do xadrez possibilitaria o desenvolvimento e aprimoramento de quase duas dezenas de atitudes e habilidades muito importantes:
  • Autocrítica
  • Capacidade de cálculo
  • Capacidade de decisão
  • Concentração
  • Controle nervoso
  • Criatividade
  • Espírito de luta
  • Força de vontade
  • Imaginação
  • Intuição
  • Lógica
  • Memória
  • Objetividade
  • Organização
  • Planificação
  • Previsão
  • Sociabilidade
  • Superação do fracasso
  • Visão espacial
Os autores fecham a sua lista afirmando que, por deixar a mente sempre desperta (e bem exercitada), a prática do xadrez também ajudaria a impedir o aparecimento do Mal de Alzheimer nos cérebros dos enxadristas! Trata-se da teoria da reserva cognitiva. Fato científico ou algo muito bom para ser verdade?

Leitura recomendada:
  • D’AGOSTINI, Orfeu. Xadrez Básico. São Paulo : Ediouro, 1954.
  • GONZÁLEZ, José M. e MANZANO, Antonio L. O Xadrez dos Grandes Mestres: 400 conselhos para melhorar o seu nível enxadrístico. Trad.: Abrão Aspis. Porto Alegre : Artmed, 2002.

Para saber mais:

Problema da Semana
Este problema consta nas ótimas crônicas Mitos em Xeque, de Arrabal, foi criado em maio de 1922 por B. Harley e publicado no Chess Amateur.

Trata-se de um mate das brancas em 2 lances.

Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução: [ 1.Rd1 (Se 1...exf 2.Rc2 mate; Se 1...exd 2.Rxd2 mate; Se 1...Rxf2 2.Bxe3 mate), todavia, o Chessmaster XI encontrou uma solução mais agressiva com 1.0-0-0+ Rxf2 2.Bxe3 mate. ]

O Astronauta que Desafiou a Terra


Por Roberto Cruz.

O astronauta norte-americano de origem canadense Gregory Chamitoff é um enxadrista que vem desafiando os centros de controle espacial ao redor do mundo para as primeiras partidas espaciais da história da humanidade. Os centros estão localizados nos Estados Unidos, Europa, Rússia e Japão. O habilidoso Chamitoff faz seus lances e os enxadristas dos centros respondem com lances escolhidos por votação.

Chamitoff é graduado em engenharia elétrica e aeronáutica na Califórnia e possui PhD em astronáutica e aeronáutica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Atualmente atua como engenheiro de vôo na Estação Espacial Internacional, um verdadeiro laboratório espacial ainda em contrução localizado em uma órbita da Terra. A estação se desloca em uma velocidade média de 27.700 km/h, completando 15,77 órbitas no planeta por dia.

Em setembro do ano passado, a NASA juntamente com a Federação de Enxadrismo Norte-americana organizaram o primeiro match Terra versus Espaço. A partida que tem Chamitoff conduzindo as brancas e os enxadristas de todo o mundo de negras já está em seu 20º lance e pode ser acompanhada no site da federação estadunidense.

Para saber mais:


Problema da semana
Final da partida entre Dikarev e Peltz, mostrada na coletânea de crônicas Mitos em Xeque, do dramaturgo e romancista espanhol Fernando Arrabal.
As brancas jogam e empatam.


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Solução: [ 1.De5+ Rh7 (ou Rg8) 2.Dg7+ Dxg7 empate.]

A Ruy López de Einstein


Por Roberto Cruz.

O célebre físico Albert Einstein teve o seu interesse despertado pela arte de Caíssa ainda na infância e tornou-se um hábil estrategista do tabuleiro durante a adolescência. Em 1927 veio a conhecer o grande mestre Emanuel Lasker e tornaram-se bons amigos. Lasker, que também era judeu alemão, manteve-se como um invencível campeão do mundo por um longuíssimo período de vinte e sete anos, de 1894 a 1921, o mais extenso da história do enxadrismo. Lasker, um erudito, filósofo e matemático, era visto por Einstein como um novo “homem renascentista”. A tese de doutorado em matemática de Lasker, On Series at Convergence Boundaries, é considerada como uma das principais contribuições para a fundação da álgebra moderna. Com o advento do Nazismo, ambos tiveram que fugir com suas famílias da Alemanha.

Em 1933, já estabelecido nos Estados Unidos, Einstein disputou, ironicamente, uma partida contra o pai da bomba atômica, Robert Oppenheimer, em Princenton. Einstein iniciou a partida de brancas com a abertura espanhola Ruy López e Oppenheimer respondeu com o sistema Morphy. Einstein, que era definitivamente contra o uso das novas descobertas da física teórica para a construção de armas nucleares, derrotou Oppenheimer após 24 lances, mostrando quem era o mais inteligente dos dois.

Para saber mais:
  • Clique aqui para acessar o pequeno verbete que criei para a Wikipédia sobre a partida entre Einstein e Oppenheimer.

Problema da semana
Composto por André Philidor, músico francês e mestre de xadrez do século XVIII.
As brancas jogam e ganham. Mate forçado em 4 lances.

Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução: [ 1.Cf7+ Rg8 2. Ch6+ Rh8 (Se 2...Rf8, logo 3. Df7#) 3.Dg8+ Txg8 4. Cf7# ]

O Rei em Perigo de Benjamin Franklin


Por Roberto Cruz.

Benjamin Franklin, o célebre escritor, diplomata e cientista norte-americano, também foi um entusiasta do enxadrismo, que é o estudo e a prática do jogo de xadrez. Considerava o tabuleiro de xadrez, suas peças e peões, como uma representação simbólica do mundo, repleto de conflitos, dilemas e perigos a serem vencidos. Em 1779 chegou a escrever um pequeno e belíssimo ensaio sobre as virtudes do esporte (o xadrez hoje em dia é reconhecido como esporte intelectual pelo Comitê Olímpico Internacional), intitulado A Moral do Xadrez (The Morals of Chess). No ensaio assegurava que o enxadrismo não é uma fútil diversão, mas que aprimora as qualidades mais necessárias à vida, e dentre elas, citou como principais a previsão, a circunspecção, a cautela e a perseverança.

Franklin também deixava refletir os ideais republicanos em suas partidas. Certa vez, foi atacado por um adversário que deu xeque em seu rei. Franklin simplesmente ignorou o lance e fez outro movimento totalmente alheio ao que acontecia com seu monarca. O adversário objetou surpreso: “O senhor não está vendo que o seu rei está em xeque?” Ao que respondeu Franklin, “Estou vendo, mas não vou defendê-lo. Se ele fosse um bom rei, como o seu, mereceria a proteção dos súditos. Mas é um tirano, e já custou a eles muito mais do que o seu valor. Pode levá-lo, se quiser. Posso me arranjar sem ele e lutarei o resto da batalha como um republicano.”

Referências:
  • SHENK, David. O Jogo Imortal: o que o xadrez revela sobre a guerra, a arte, a ciência e o cérebro humano. Trad. Roberto Franco Valente. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2007.

Problema da semana
Este interessante problema foi criado pela famosa enxadrista húngara Susan Polgar, quando tinha apenas quatro anos de idade (1973).
As brancas jogam e ganham. Mate em 2 lances.


Selecionar o espaço vazio abaixo para visualizar a resposta.
Solução: [ 1.Rd1 Rf1 2.Dd1 mate. ]